Gostos e invejas à parte, a Ana Moura escalou mais uns patamares na minha consideração!
Já não bastava ser gira e talentosa, sofisticada e de bom gosto, só faltava mesmo ser amiga do Prince!!
Ana Moura é inovadora, surgiu no panorama do "novo fado" pós-"furacão" Marisa, mas foi capaz de se distinguir de tantos outros talentos "simplesmente" porque conseguiu romper com a imagem tradicional, triste e antiquada do fado.
Não é apenas uma questão de "look" (isso também já a Marisa tinha feito), é também uma questão de interpretação, de conferir novas abordagens a temas tão antigos como "Vou dar de beber à dor" celebrizado por Amália nos anos 60. - Comparem AQUI
Ontem à noite, no Meco, Ana Moura conseguiu a "proeza" de ser acompanhada à Guitarra (eléctrica) por Prince, que é (só) uma estrela de dimensão planetária!!
Quer se queira quer não, só isso já é BRILHANTE e motivo de orgulho!! (e se a Amália fosse viva...)
Foi no domingo passado que passei À casa onde viveu a Mariquinhas Mas está tudo tão mudado Que não vi em nenhum lado As tais janelas que tinham tabuinhas Do rés-do-chão ao telhado Não vi nada nada nada Que pudesse recordar-me a Mariquinhas E há um vidro quebrado e isolado Onde havia as tabuinhas
Entrei e onde era a sala agora está Á secretária um sujeito que é lingrinhas E não há colchas com barra Nem viola nem guitarra Nem espreitadelas furtivas das vizinhas O tempo cravou a garra Na alma daquela casa Onde às vezes petiscávamos sardinhas Quando em noites de guitarra e de farra Estava alegre a Mariquinhas.
As janelas tão garridas que ficavam Com cortinados de chita às pintinhas Perderam de todo a graça Porque é hoje uma vidraça Com cercadura de lata às voltinhas E lá p´ra dentro quem passa Hoje é p´ra ir aos penhores Entregar ao usuário umas coisinhas Chegou a esta desgraça toda a graça Da casa da Mariquinhas.
P´ra terem feito da casa o que fizeram Melhor fora que a mandassem p´ras alminhas Pois ser casa de penhor O que foi viveiro de amor É ideia que não cabe cá nas minhas Recordações de calor E das saudades o gosto Que vou procurar esquecer numas ginjinhas Pois dar de beber à dor é o melhor Já dizia a Mariquinhas.
Aqui há tempos, falei-vos do meu fascínio pelas "reinvenções musicais".
Hoje falo-vos de um tributo a outra lenda do fado - Amália.
Amália hoje, o projecto dos the gift (ou parte deles) é um bonito tributo à Diva do Fado. As canções reinventadas adquirem um carácter épico, grandioso, com o seu quê "hollywoodesco".
Aposto que a Srª Dona Amália está orgulhosa com esta homenagem.